Tarde no El Corte Inglês com um pequeno grupo: almoço, conversa, livraria, cinema... Com tanta coisa que tenho para ler, há muito que deixei de me debruçar sobre certas críticas: a de cinema é uma delas. Por vezes vou mesmo ao ponto de testar esta posição: quando os amigos me diziam que a crítica deitava abaixo dado filme da Liliana Cavani, eu já sabia que era obra a ver; quando hoje me anunciam que o filme X de David Lynch é unanimente louvado, percebo logo que é algo a evitar. Não me tenho dado nada mal com este meu método! Tudo isto para dizer que acabámos por ir ver o último do Costa-Gravas: "O Capital". À noite, e para me contradizer, resolvi ir ler as críticas que andam pela net. Deuses, uma indigência que arrepia! Para muitas das oraculares vozes analíticas o cinema de Gravas resume-se a... ... um imediatismo que retrata o aqui e agora´, muitas vezes, através da parábola e da denúncia. E pronto, têm dito!!! Claro que fico sem saber como entram nesta caracterização dados diálogos; o do duche de Marc Tourneil (Gad Elmaleh) quando a mulher sente repulsa por ter de usar um vestido que acabara de custar 20.000E, aliás, as figuras femininas são neste filme - à excepção da "tonta" Claude!- personagens muito interessantes, são figuras da inconformidade e do conflito ético-moral que nada têm a ver com uma exposição crua do imediato. Outro momento também que escapa ao retratismo presentificado é o diálogo de Marc com o tio durante o almoço em casa dos pais, logo seguido da observação fugaz das crianças brincando com tudo o que é tecnológico - estamos, aqui, em pleno campo da análise simbólica ou até mesmo de cunho psicologizante, sobretudo se observarmos bem o filho de Marc. O próprio fim do filme nada tem de imediatista: é uma hipérbole onde se ridiculariza o sistema financeiro e, entrando mesmo pelo profético adentro, afirma explicitamente que a bolha acabará por rebentar, já que é da própria essência da todas as bolhas a sua implosão. No final do filme, e como corolário, Costa-Gravas não fala do imediato, fala-nos do futuro: o facto de ter optado por um monólogo para a camara (mais um!) e pelo fecho abrupto da acção parece indiciar um certo temor ante o inevitável que parece avizinhar-se. Este filme não é apenas uma denúncia, é também uma premonição com laivos de uma pedagogia derradeira e desesperada.
Excelentes desempenhos de Gad Elmaleh, Llya Kabele e dos veteranos Gabriel Byrne e Hippolyte Girardot..
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