08/05/13



         "  da coragem  "



Deus, ensina à nossa vida que não há coragem inútil,
que os lugares do impossível se deslocam
quando a confiança toca o chão das coisas
e não é crença ornamental, alegoria

liberta a nossa vida do discurso da resignação
que é o fatalismo,
do derrotismo, que é a filosofia espontânea dos proletários

livra-nos, Senhor, do niilismo passivo, da crença desfeita --
as grandes portas abertas ao fascínio do terror,
livra-nos de tolerar o mundo,
a perversão à escala industrial, a conivência da morte

dá ao nosso corpo a graça das viagens sem bagagens,
sem outro futuro que a coragem,
sem outro combate que a justiça e o direito à diferença

arma os nossos olhos da paciência ardente
e os nossos braços da ternura real,
para acolhermos a aurora do teu Dia
no cruzamento do que em nós se repete e se interrompe,
se desloca e se excede,
e descubramos o esplendor da tua face
de mãos dadas com quantos,
de todos os horizontes te procuram
e te proclamam

santo, justo e imortal


    Mourão, José Augusto. O Nome e a Forma: poesia reunida. Lisboa: Pedra Angular, 2009, pp 27 - 28.
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