A Ilha é mágica e misteriosa, tu sabes, e eu gosto dela assim pura. Ilha - caminho para o oriente. Ilha - Mitologia, magia vibrátil, contagiante, em sua esteira aérea e calorosa, desces-me. Como a luz atravessas-me. Tu que és os ritos, o entreposto e a rota para a Índia, a Arábia Saudita, teu folclore encandeia-me o horizonte. Teus seios geminados eu reparo e não sei mais que fazer, a casa do meio que tu me és espanto só de ouvir-te, e que milagre, que magia nasce das tuas mãos, dos teus poros. Palavra que como o fogo aqueces-me o corpo, irreconheço-te só de navegar-te, mulher, meu pulmão, minha respiração, motor que eu quero impulsionante pelo sangue adentra-me, que é de amar, meu ofício, meu vício, que existo, pátria, Pandora, paquete, palanque meu que podes ser a ideia do moinho ao centro da mó e na esfera à cabeça do Mediterrâneo. Agora entre as mãos e a língua levo-te como uma donzela à passagem iniciática do menstruo, como a doce cantiga embrulhada na fogueira levo-te os genes carregados de bateria e frutos de afecto, ainda aquela memória solar do voo.
Timóteo, Adelino. A Arqueologia da Palavra e a Anatomia da Língua, Antologia Poética. Maputo: Revista Literatas, 2013, p. 266.
Nota 1. - O presente texto de Adelino Timóteo foi tirado do seu livro Viagem à Grécia através da Ilha de Moçambique. Sugiro igualmente o seu Livro mulher, obra já de 2013.
Nota 2. - Este poema é o último a ser postado relativo à obra em referência. A presente Antologia teve a Coordenação do poeta moçambicano Amosse Mucavele e contou, no respetivo Conselho Editorial, com os seguintes autores: Abreu Paxe (Angola), Jorge Arrimar (Angola), Victor Oliveira Mateus (Portugal), Mbate Pedro (Moçambique), Cláudio Daniel (Brasil), Rita Dahl (Finlândia), Maria Ângela Carrascalão (Timor-Leste), Conceição Lima (São Tomé e Príncipe), Alberte Momán Noval (Galiza-Espanha), Maria do Sameiro Barroso (Portugal), Frederico Matos Cabral (Guiné-Bissau).
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