06/10/13


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Margarethe von Trotta, juntamente com Schlondorff e Fassbinder, é uma das impulsionadoras do novo cinema alemão. De entre a sua conceituada obra contam-se filmes como: "Anos de Chumbo" (1981), sobre os grupos de guerrilha que atuaram nos países ricos da Europa ainda não há muito tempo, e "Rosa Luxemburgo " (1986), a ativista e filósofa marxista assassinada pela direita nazi na Alemanha. Não deixa de ser significativo que, nos dias de hoje, Madame von Trotta vá exactamente fazer um filme sobre uma filósofa a quem o problema do Mal tanto obcecou - Hanna Arendt.
 O filme "Hanna Arendt" (2012), cujo papel principal é magistralmente representado por Barbara Sukowa, narra a posição da filósofa alemã, não só relativamente à questão do Mal, mas sobretudo demonstra como ela chega às suas conclusões (PENSANDO e... VENDO!) através do julgamento de Eichmann em Jerusalém. O filme, em cenas secundárias, mostra-nos ainda aquilo que foi a consumada paixão de Hanna Arendt pelo seu velho mestre, Martin Heidegger, e como ela dele se desiludiu e afastou após ter descobrido as ligações deste ao Partido Nazi, vê-se ainda a sua amizade com o casal Jonas em várias ocasiões, contudo, o filósofo Hans Jonas viria a romper com Hanna Arendt após a publicação que esta fez do seu texto sobre Eichmann.
Adolf Eichmann (19/3/1906 - 31/5/1962), oficial das SS, foi um dos maiores organizadores do holocausto: pelas mãos dele foram encaminhadas para morte milhões e milhões e milhões de pessoas. Após a derrota nazi na 2ª Grande Guerra, Eichmann consegue um passaporte falso da Cruz Vermelha e esconde-se na Argentina, onde passa a viver clandestinamente. Em 1960 a Mossad localiza-o e rapta-o para logo o colocar em Israel, mais propriamente diante de um tribunal em Jerusalem, ante o qual Eichmann terá de responder por crimes de guerra e por crimes contra a humanidade. Considerado culpado, Eichmann é executado em 1962.
Ora sucede que Hanna Arendt é encarregada, pelo jornal para o qual trabalha, de ir VER/ASSISTIR ao julgamento de Eichmann. A primeira coisa que a surpreende é que aquilo que vê dentro de uma jaula de vidro não é propriamente o monstro que esperava ir ver, mas antes um zé-ninguém engripado. Aquele indivíduo nunca ligou uma válvula ou uma torneira para gasear pessoas, ele nunca empurrou ninguém para dentro de camionetas que gaseavam, ele, conforme afirmava no tribunal, limitava-se a ser fiel a um juramente e a uma dada noção de dever. Este foi o primeiro grande choque de Hanna Arendt, ela não conseguia estabelecer nenhum elo de causalidade direta entre qualquer ação de Eichmann e as mortes concretas que os seus comportamentos jamais se esforçaram por impedir. ONDE PROCURAR ENTÃO A CAUSA DO MAL? E a resposta de Hanna Arendt foi depois bem clara: primeiro, é possível existirem momentos na História e nas Sociedades em que, apesar de dotados de CONSCIÊNCIA, os indivíduos não exercem o PENSAMENTO (veja-se com atenção todos os diálogos do filme que abordam a questão da consciência, do pensamento e da culpa!) acabando assim por levar ao sofrimento e à morte muitos seres humanos; segundo, esses indivíduos, ESSES ZÉS-NINGUÉM são o que mais existe nesses momentos nas referidas sociedades edificando assim, e fortificando, A BANALIDADE DO MAL. A filósofa diz mesmo, em certo momento do filme: "o Mal nunca é radical, radical só o Bem, mas o Mal pode ser extremo e profundo" quando propagado pelos incapazes de pensar. O filme levanta depois outras questões, como por exemplo o papel dos Conselhos Judaicos nos países ocupados, questão a que a autora não consegue responder a 100%, embora assumindo que eles também participaram em mortes e que...  "entre a consumação da ação odienta e o leque de possibilidades devem existir muitas posições", mas aqui Hanna Arendt não conclui o raciocínio.
As posições da filósofa levantariam depois um coro de ódios, ameaças e acusações, nomeadamente a de estar a defender Eichmann e é a essas acusações que ela responde aqui nesta aula dada num anfiteatro.
Acabo apenas dizendo que não creio ser por acaso que um nome prestigiado como Margarethe von Trotta, decide fazer um filme sobre "a banalidade do mal", sobre a "culpa dos zés-ninguém que se recusam a pensar", sobre "facilidade com que indivíduos que dizem que se limitam a cumprir ordens "(como Eichmann o faz no tribunal!) acabam conduzindo ao sofrimento, e até à morte, tantos seres humanos; não creio - repito - que na atual, e desumana, crise do capitalismo financeiro a feitura deste filme tenha sido trabalho gratuito e de mero passatempo.
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(Mera sugestão- "Eichmann em Jerusalem - Uma reportagem sobre a banalidade do mal" de Hanna Arendt, Edições Tenacitas, Coimbra, 2003; "As origens do totalitarismo" de Hanna Arendt, Dom Quixote, Lisboa, 2006).
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