06/01/11

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               " 5. "

"Vai pra Delfos" - um sino, um martelo, sei lá,
ou um encosto, atacava sem trégua, moía
a cabeça, e "aspirina, meu Deus, por favor
aspirina", abro o vidro vazio, fecho o vidro,
" eu tô louco", o remédio: poesia alemã;
leio enquanto dirijo - uma noz, a palavra,
alvorece, avermelha na boca da pítia,
e do invólucro duro não dá pra escapar,
nem da hepatotomia -, tá bom, tô melhor;
sempre fico melhor perto desse alemão;
chego a Delfos; inverno; bem poucos turistas;
uns ciprestes, terreno rochoso, montanhas,
cinco meias-colunas, ou seis, muita pedra
e uma imensa vontade de ter um porquê;
" o melhor, água pura, mas ouro, de noite,
como fogo fervendo arrebata, supremo... "
- bom agouro, talvez: uma águia bem longe,
uma brisa soprando o segredo que esconde.

Érico Nogueira in " Dois ", É Realizações Editora, São Paulo, 2010, p 49.
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