28/01/11

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Um dia, meu amor, gastei o corpo
Contra a memória da casa, as mãos
Vieram ocas pelos dias que perdia
Ou a sombra me encostou o corpo
Contra a pedra, meu amor, onde parti
Os dedos como louças entre os dias,
Minhas agulhas foram o que cansei dos
Ossos, o meu amor, quero-lhe mal, desfaço
O coração, se largo tristeza ou puro fio
O dia escurece a casa, a cal seca na
Parede, se trago, meu amor, o corpo
Que partiu, digo-te: se amanhã fosses
Silêncio, ardor ou despedida, todos os
Nomes de deus trariam o osso à casa,
Onde rebento de fogo prendo animais
Fundos ao ventre, se a memória fosse
Só a cal amarga de um dia, meu amor

Alexandre Nave in "Os dias do Amor - um poema para cada dia do ano" (Organização:
Inês Ramos), Ministério dos Livros Editores, Parede, 2009, p 357.
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