31/01/11

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"À Tálida"


Levantas os claros olhos vagos,
reflexo do Jônio Mar. E alva suplicas ao
Zéfiro: "Apartem-se os delfins das águas
do meu corpo!" Toda de luz
se esvai a carne de teus flancos,
teus seios são ariscos aos ávidos amantes.

Tálida, por que te afastas
nas amplas salas do Mar? Por que te esquivas a Hipérion,
um a um descendo os degraus da escada flamejante?

Enovelas-te em concha róseo-dourada,
os ouvidos cerrados ao lamento amoroso.
Por que a recusa em véus dissimulados?
E essa lágrima, ó tristonha,
por que suspensa nos cílios de seda iluminada?
Tua beleza é cofre oculto em profundezas,
aonde mão não chega de amado algum, nem sonho.
A taça de teus lábios é oferenda
que em nada se assemelha ao vinho destes ares,
a outro Deus vertido, Tálida, casto e invisível.

Dora Ferreira da Silva in " Hídrias", Odysseus Editora, São Paulo, 2004, p 47.
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