10/01/11

"(...) em seu totalitário desvario/ apenas procurou um espaço ou subúrbio de paisagem. "

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" XIII "

. o antigo arquitecto das almas andou de cidade em cidade
porque é um desvairado. rastejou subjugado sem que
uma delas o acolhesse em seu divino e surreal canto. filho
unigénito da oração fraccionada em seu totalitário desvario
apenas procurou um espaço ou subúrbio de paisagem. nele
descansa toda a eternidade das borboletas azuis contaminadas
pela antiga estrela do sol. esperou só a apoteose do prodígio
do verbo e a luminescência sobre os seres que respiram pelas
artérias. e pereceu na ausência da abundância expelindo o
derradeiro halo do vómito. o excremento ácido e avassalador
das mariposas ofuscas de luz. as suas raízes alastram agora
pelas frechas sanguíneas do asfalto. e aí desabrocham hoje
pragas raras de gramíneas. a blasfémia redentora da utopia.
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João Rasteiro in "Diacrítico", Editora Labirinto, Fafe, 2010, p 47.
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