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" MEDITERRÂNEO
(Méditerranée de Jean-Daniel Pollet) "
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Há ecos secos de estridência e ignorância
rodeamos devagar a casa emudecida e grande
e olhamos
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como de roda atroam os insectos
como no rosto jacente o tempo é luminoso
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e se obstina, paralelo ao sol, à corrosão do sal
- esta é a condição que nos espanta, sob o cerco
atroante dos insectos
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olhamos isto devagar e nada vemos
e disso é que falamos: da obstinação do sol
sobre as ruínas
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a rapariga de vermelho, que aos torsos se mistura,
a rapariga em branco, sob um sono branco
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e a rapariga que abotoa a blusa azul enquanto passa
um vento de doçura e quente, um vento que consente:
rosa aberta ao canto rouco obstinado
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porque são rápidos cegos e ligeiros os gestos
nessa dança
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todo o rosto é solo arável, todo o rosto dado
à incubação do sol, à luz propícia, este é o zumbido
das abelhas - robustas, em círculo apoderadas
da procura
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Maria Andresen in " Lugares, 3", Relógio D' Água Editores, Lisboa, 2010, p 15.
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