18/06/11

.
Sem defesa - de um olhar-goraz - uivando à nossa mesa
Mes AMIS
Ferva um caldo de marcas e siglas ao lado da minha enxerga
Algumas queimam no vagarzinho e nem as consigo enxergar
Nem sempre o que ferve se purifica - na estreiteza do escaninho

BPP e BPN - sem dispêndio nas insónias - sem suar ao sol d'AMI

Em manobras de um agudo tilintar
Na quietação sem ciência de outro mar

OPTIMUS
Não as oiço... Nem enxergo estas encíclicas
Falta de destreza - numa côdea de pobreza
De quem rejeita o intuito de abreviar
Quando se perde na justa medida
A vida que de breve só se atreve
De alma lenta em tudo para durar

"Abençoados os pobres de espírito"
Pois deles não é o reino da terra

E o mundo - uma centopeia de olhares musculados
Eléctrica e sem fios - na corrente de todos os desafios
Rastejando na prontidão dos passos imaculados
Até no instante da extrema-unção
Competindo dentro e fora das feiras e dos mercados
- Não há sardinhas na grelha como as que compro e vendo
(De maxilares saciados na verdura das alfaces sem sabor
Até dizem que a alface faz enxergar melhor)

O mundo em travessas - girando na devoção ao labor
Uma centopeia sem miopia nem vista cansada
De patas grossas - gravando na eira do tecno-rafeiro
( Cão seja - Fiel por baptismo)
O território da sardinha que não quer perder o peso
Na comunhão sem azia de uma salada sem cheiro

E o futuro está na alfa-sardinha
TGV de todos os continentes
De rápida extensão em verdes-faces

( Pois - não é verdade que quem tem olho tudo enxerga?)

BPP e BPN
Siglas - varinas de espreitar entre saias os peixes miúdos
De atacar nos bês e nos pês e nos Nez os perfumes
E temperos - na caldeirada de intestinos façanhudos
Sobre as patas de engrossar a canastra dos milhões
Regateando sem cansaço essa queda de crescer
Entre sardinhas cruas e alfaces de olear os foliões

- Quem quer fundos - quem quer almoçar?
Olhe a sardinha fresquinha
Ó freguês! Olhe os fundos frescos de amadurecer
Não são figos nem sardinhas de alto-mar

Antes o banquete ilustrando a arte de naufragar

  Ana Maria Puga in "Quando as Palavras começam a escrever", Editora Labirinto,
Fafe, 2011, pp 75 - 76.
.