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O SANGUE insiste
Como um pensamento,
Uma ideia fixa que preenche um dia à toa.
Depois reflui, resolvido.
O sono condensa a vista,
Como a respiração no vidro do carro
Parado sob a chuva.
Os mangues ameaçam invadir a cidade,
Sobem e defluem íntimas marés,
Enxurradas de restos, caranguejos, garrafas.
Ou tudo escorre em paz,
Nos canos do tanque, de plástico liso,
Ou no correto sistema de águas do banheiro.
Assim no dia a dia o amor,
Cobra, inseto, ave de rapina,
Vai desdobrando a vida,
Que corrói.
Paulo Franchetti in "Memória Futura", Ateliê Editorial, Cotia, 2010, p 45.
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