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PONHO UMAS palavras num papel
E elas passeiam, intocadas,
Como peixes com fome num aquário.
Se alguém se debruçasse agora,
Em busca de outra imagem recurvada,
Veria apenas a sombra, como eu vejo,
Na folha de papel.
Nem mesmo sob a superfície paira
(As lembranças, afinal, já não cavalgam as palavras)
Alguma forma de alívio.
Apenas isto:
Estes gestos,
Pequenos pedaços flutuantes,
Farelos que os peixes,
De súbito surgindo do fundo
Da água lodosa,
Vêm devorar.
Paulo Franchetti in "Memória Futura", Ateliê Editorial, Cotia, 2010, p 33.
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