02/06/11


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  (Fragmentos do Ciclo " Escritos da Admiração" )
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Poesia e filosofia não principiam pela indagação; nem
pela dúvida. Mas pela exclamação das palavras que in-
sistem em transbordar com o admirável, a ponto de não
se distinguirem dele. Os escritos não são instrumentos
de comunicação do que lhes é exterior. Eles mesmos,
já espantosos, realizam seu limite, chegando ao que, des-
de sempre, são: palavras, criações de novos destinos.
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(...)
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A exclamação do poeta (do pensador, do filósofo) é
feita de dentro do enigma. Ele não é aquele que decifra
a esfinge, sob pena de morte caso fracasse. Ele não é
aquele que consulta o oráculo para descobrir o futuro
vindouro. Ele é a própria esfinge, produtora de enigmas.
Ele é o próprio oráculo, criador de palavras ambíguas.
No princípio, era o enigma, que se bastava por si pró-
prio, e o oracular era uma ambiência a ser frequenta-
da, uma morada a ser habitada. Nenhuma resposta o
precedia, nem era requisitada nenhuma explicação. A
necessidade de sua decifração se constitui como tare-
fa tardia do pensamento. Antes de ser revelação de
um sentido oculto, a palavra poética, pensante, dedi-
ca-se a nos envolver com o oculto que há em todo
sentido; ao invés da dúvida, a exclamação; ao invés
da pergunta e da resposta, o enigma.

  Alberto Pucheu in "Escritos da Indiscernibilidade", azougue editorial, Rio de Janeiro,
2003, pp 8 - 11.
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