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"Manhã"
Lentamente, foi se afastando da praia.
Estava amarrado, e depois oscilou livre,
Na maré vazante.
Terá demorado a fugir da vista.
No alto-mar, ao sabor das correntes que o arrastaram,
Deve ter recolhido a chuva e secado ao sol.
A água, penetrando pela borda,
Nos meios-dias deve ter deixado um rastro brilhante de sal sobre o banco
E nas dobras do fundo.
Depois, numa noite de chuva,
Primeiro uma onda o terá alagado até o meio.
Em seguida, balançando mais lento, terá sido aos poucos coberto pela água.
Como não afundasse, ficou vagando,
Até se desfazer em partes,
Uma das quais é esta, que agora
Está aqui, quase enterrada na areia.
Paulo Franchetti in "Memória Futura", Cotia, São Paulo, 2010, p 18.
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