.
As barracas do Dia da Leitura
invadiram a praça e a banda estoura,
vomita decibéis e, quanto mais
potentes as colunas, mais se orgulham
aqueles fabricantes de ruído
que o alcaide iliterato de Alcobaça
contratou para a frente do mosteiro.
São todos já os mesmos clones Dolly,
e um grupo de turistas, com a guia
mais a sua agitada bandeirinha,
parece estar feliz com o barulho
que ressoa e suprime as naves góticas.
Pedro e Inês agonizam sem remédio.
Não sei como escrevi que ambos fugiam
em dois cavalos brancos. Disparate.
Isso não é real. Real hoje é
os livros nas barracas
e a banda que profana, retumbante.
Há dois séculos foram os franceses,
e amanhã nem os nomes Pedro e Inês
os filhos desta gente hão-de saber.
Nuno Dempster in "Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo", Edições Sempre-Em-Pé,
Águas Santas, 2011, p 61.
.