04/10/09

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Fiel até ao fim. Fiel até ao fel.
Há muito que não sei levar-te a mim.
A esta rude, estranha transparência dos meus dias.
Não sei se me desculpas
Ou imploras aos teus deuses que me assaltem.

Quantas vezes, perdidos já os dois, me confesso inerte dentro do teu corpo,
Cansado dos que suam e não me sonham
Dos que sonham corpos e trazem na cabeça, arrastados pelo medo,
Um suor submisso, um rouco respirar que não me alcança.

E eram mãos absurdas, vermelhas,
Rodadas, rodeadas
De pequeninos coros de papel, vítimas do mundo
E loucas de saberes
Que tu atropelavas nas ruas, selvagens,
Assassino infiel do meu destino.

Armando Silva Carvalho In "O Amante Japonês", Assírio & Alvim, Lisboa, 2008, p 14.
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