18/10/09

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            "Soneto"


Cresce a sintaxe com muito vagar.
Diz ao fonema: Vem. Depois, sou eu.
Ri o Sol da gramática, apesar
de o Sol só fazer más rimas no céu.

Faço as pazes com ele, vou tomar
banho - "Belo transporte", concedeu.
Saio prà rua grávido de um par
de versos: páro, vejo-Me ao léu,

volto depressa a casa por papel.
Eis aqui está um bom decassilábico,
sobretudo, prudente: não repele
plo aroma e até o lê um estrábico.

Mas lixou-se o soneto isabelino.
Cacofonias, ai!, fazem o pino.

(Budapeste, 15 - III - 1984)

Ernesto Rodrigues In "Revista Mealibra", Nº 20, Série 3, 2006/7.
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