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" Tramontana em Lerici"
Hoje, deixasse alguém cair um copo de vidro e
Ele desintegrar-se-ia, deflagrando com tal intensidade
Contra a ressonância do frio ( os sons
Duros, separados e distintos, distanciando-se
Em cadência decrescente) que se juraria
Tratar-se da imitação de vidro a quebrar-se.
Nas folhas acentuam-se os matizes. Estimuladas por esta claridade
As mentes dos artífices tornar-se-iam prismáticas,
Arrebatadas por rendas de arestas afiadas,
Cortantes como aço. Constituições
Esboçadas sob este frio fecundo, seriam anuladas
Pelo rigor da sua equidade, pela moderação da sua piedade.
Ao entardecer somos perturbados pela definição
De tantos tons de verde quantos tentamos vislumbrar,
Quantos ainda a própria paisagem,
Absorvida pela firme obscuridade, condensa
Desde o verde-mar até esse lento anil escuro
Onde a luz e o crepúsculo se abandonam.
E o frio aumenta. Aqui, neste ar
Impróprio para políticos e românticos,
O escuro consolida-se do azul, e apaga as janelas:
Um bloco tangível, recusará ser acessório
Do que lhe não disser respeito. Somos ignorados
Por tanto frio suspenso em tanta noite.
Charles Tomlinson In "Poemas", Edições Cotovia, Lisboa,
1992, p 5 (Tradução de Gualter Cunha).
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