11/10/09

"Não a tua sombra, mas plenamente... "

"Portrait Flamand" foto de Blue Belhomme, Paris, 2009.

"A Cruz do Sul"

Desejei-te, Mulher do Sul sem nome,
Não a tua sombra, mas plenamente - quando ainda mais solitária,
A Cruz do Sul possui a noite
E a despoja das suas faixas, uma a uma -
Altiva, serena
longe do lento fogo
Dos céus inferiores -
etéreas cicatrizes!

Eva! Madalena!
ou tu, Maria?

Qualquer apelo - cai inútil entre as ondas.
Oh simiesca Vénus, desalojada Eva,
Por casar, errando sem um jardim onde chorasses
As guitarras varridas pelo vento sobre pontes isoladas;
Para finalmente responder a tudo dentro de um túmulo!

E este longo sulco de fósforo,
iridescente
Esteira de toda a nossa viagem - perseguida irrisão!
Os olhos dividem-se com o seu beijo. O seu longo, interminável fascínio
Incita a gritar. Deslizando nessa visão oculta
O espírito lança o seu escarro, sussurrante inferno.

Desejei-te... As brasas da Cruz
Subiam oblíquas e amontoavam-se aromáticas.
É sangue para recordar; é fogo
Hesitante que responde... É
Deus - o teu anonimato. E a ablução -

Toda a noite a água alinhou teus cabelos com negra
Insolência. Rastejante agitada até à tua realização.
A água provocou aquele pungente ruído, o teu
Cabelo enumerado - dócil, ai de ti, depois de sujeita a tantos braços.
Sim, Eva - sombra da minha semente sem amor!

Selada a Cruz, um fantasma - desceu mais baixo que a aurora.
A luz afogou aos milhares a tua lícita geração.

Hart Crane In "A Ponte", Relógio D'Água Editores, Lisboa, 1995,
pp 85-87 (Tradução de Maria de Lourdes Guimarães).
.
.
.