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" Poema XVII do capítulo Paisagens, Apesar "
Alguém se lembrou um dia
de pôr uns peixes no tanque da rega.
A finalidade não era evidente
e podia temer-se irem os peixes
acabar no campo de milho.
De facto, deram-se bem, nadando
entre os limos do fundo, visíveis
apenas a espaços, no orgulho
solitário de grandes senhores
aquáticos, partilhando, displicentes,
a sua casa com as rãs.
Um gato, no muro de pedra, procura
por momentos compreendê-los.
Alguém lança uma pedra. A água
ondula, em preguiça circular.
E o gato voltas as costas dignamente
desistindo do enigma fluvial.
Graça Videira Lopes in " Paisagens e outros lugares a discutir ", Arte Comum,
Lisboa, 2005, p 71.
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