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" Memórias de família "
O famoso médico Davi Negro, morador
às Portas do Rosário, disse um dia
de manhã que mais valia um judeu
vivo que dois mortos, posto o que
viajou para Amsterdão - se não foi
ele foi o primo; de qualquer forma,
os tempos iam maus, na foz
do Tejo: terramotos, milagres,
espantosos sinais de apocalipse
comprovado. Davi Negro, cidadão
de Lisboa um pouco crédulo, pisgou-se
uma manhã; e com teres e haveres,
(bastos haveres) rumou a norte, num
navio flamengo. Pelo apocalipse, por
cá, ainda esperamos. Enquanto isso,
é sempre bom conhecer Amsterdão.
Graça Videira Lopes in " Paisagens e outros lugares a discutir ", Arte Comum,
Lisboa, 2005, p 22.
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