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" Amo-te assim sem corpo "
amo-te assim sem corpo.
sem dias que sacodem lembranças.
sem últimas coisas.
sem ouvires de língua.
sem palavras que respiram pelo
nariz de outras.
sem compromissos abdominais.
sem o coração no bolso.
sem ruídos obscenos que
indiciam nudez.
sem borboletas vulgares
sobre o poema.
sem o conhecimento de toda a gente.
sem o teu conhecimento
ou existência.
amo-te assim sem corpo
com todo o meu corpo,
lembranças,
últimas coisas,
ouvires de língua,
palavras ardentes como
febres frias,
compromissos fundidos noutros,
o coração dobrado,
as braçadas da vida
nua e lenta como a borboleta
neste poema.
amo-te assim sem vida.
sem morte.
sem corpo.
Sylvia Beirute in " Uma prática para desconcerto ", 4 Águas, s/c., 2011, p 19.
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