23/09/11

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Num funcionamento perverso apenas se encontra a busca do poder, e há, sobretudo, um enorme gozo em utilizar o outro como objecto, como uma marioneta. O agressor reduz esse outro a uma posição de impotência para em seguida o destruir com toda a impunidade. Para alcançar o que deseja ele não hesitará em recorrer a todos os meios, mesmo - e acima de tudo - se isso for feito em detrimento dos outros, rebaixá-los para adquirir um boa auto-estima parece-lhe legítimo. Não há nele o mínimo respeito em relação ao outro. O que choca é a animosidade sem limites por motivos fúteis, e a total ausência de compaixão para com pessoas forçadas a suportar situações insuportáveis. Aquele que inflinge esta violência ao outro considera que ele a merece e que, portanto, não tem o direito de se lamentar. A vítima não é mais do que um objecto que incomoda e cuja identidade passa a ser negada; não lhe é reconhecido nenhum direito a um sentimento ou a uma emoção.
Frente a esta agressão que não entende, a vítima sente-se só, pois, como em todas as situações perversas, existe uma cobardia e uma complacência daqueles que a rodeiam que temem tornar-se no próximo alvo do agressor ou, por vezes até, porque fruem de modo sádico todo este espectáculo de destruição.
Num relacionamento normal, é sempre possível, ou solicitado pelo próprio conflito, colocar um limite à omnipotência do agressor, para se conseguir um equilíbrio de forças. Mas um perverso manipulador não tolera a mínima oposição ao seu poder e acabará tranformando a relação conflitual no mais absoluto ódio, ao ponto até de pretender a completa destruição daquele que funcionou aqui como seu parceiro (...). Apresentar a respectiva queixa é o único modo de se pôr um ponto final no psicoterror. Mas para tal é preciso coragem, ou estar-se esgotado ao extremo, já que isso implica uma ruptura definitiva com...

 Marie-France Hirigoyen in " Le harcèlement moral, la violence perverse au quotidien ",
Éditions La Découverte et Syros, Paris, 1998, pp 94 - 97. (1)
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(1) Tradução minha.
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