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" Galo preto "
Convém ignorar o canto
de quem se julga
o senhor do sol e da lua.
Ele empina o corpo rijo
para anunciar fatos
que são puro veneno.
Melhor um despertador
para informar as horas.
Olhe para o pescoço,
a vibração da língua,
as faíscas das esporas.
Todas as veias pulsam
com desejo de morte.
Quer as cristas dilaceradas,
o inimigo com má sorte
e a rinha tinta de sangue.
Crédulos o imolam
para que seja o arauto
da entrada da alma
em um mundo de luz.
Porém, antes da degola,
o último canto conduz
mais um condenado
às portas do purgatório.
Donizete Galvão in " O homem inacabado ", Portal Editora, São Paulo, 2010, p 44.
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(Nota - a palavra "fatos", do 5º verso da primeira estrofe, engloba-se na categoria das palavras de dupla grafia...).
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