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Teseu:
Dizeis...? Tudo está bem.
Voltou o meu sossego. De onde escapei,
lá estava Minotauro e labirinto.
Mas eu matei-o!
E ele, em morte, fugiu,
para sítio lodoso e muito informe.
E vós sois minha, como sempre fostes.
Ariadne (Aparte):
Porém, não só de vós, mas também dele.
(...)
As falas de Teseu sinto-as em nada
se as peso ao lado destas
que invento em Caliban.
(...)
(Dirige-se a Teseu):
De vós serei?
Eu sou de sobras tantas, meu senhor,
e tenho-me bastado
encostada à ideia de não ser,
de ter-vos só defronte a coisas tais
que ter-vos já de coisa feita era.
Mas seja assim:
De vós aqui me tendes -
Teseu:
Como divagam as mulheres!
Vós divagais.
(...)
Ariadne:
Como consigo ouvi-lo e nada me doer?
A Teseu ouço, mas não escuto nada.
E ainda tenho escondidas neste bolso
as jardas que sobraram do meu fio.
(...)
Dizei-me, Mãe, que usaste também fios
e mais do que eu sabeis.
O que farei com elas,
as jardas que sobraram do meu fio?
Penélope:
Eu, sobre o bastidor
bordei o fio da espera,
e perdi o olhar ao longo de navios
e horizontes.
Esse que amei foi meu,
voltou, mesmo ensombrado por sereias,
iluminado pela luz das ondas.
E foi tão longa a espera,
tremiam tantas noites os meus olhos,
e eu temia por ele.
Esperar - que ofício outro?
Era forte o meu fio, possante e longo,
capaz de ser depois desembrulhado,
desfeito e relançado novamente.
Não te sei responder:
o que farás com elas, as jardas
que sobraram do teu fio?
Só tu o saberás dentro de ti.
Mas sabe, minha filha, do risco que é amar:
Morte e amor: vizinhos tantas vezes,
tantas vezes amantes.
E a vida é o assombro que assombra
e amedronta.
Não te sei responder. Mas tem cautela,
que é o teu fio mais fino,
mais frágil, transparente.
O meu atravessava mares e continentes,
e ele queria voltar,
e eu queria que voltasse.
Esperar - que ofício outro me restava?
Mas eu amava aquele e mais nenhum
E tu, não sei...
Ana Luísa Amaral in " Próspero Morreu ( Poema em Acto) ", Editorial Caminho,
Alfragide, 2011, pp 22 - 26.
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