Nessa altura eu já tinha saído de casa e começado a trabalhar como estagiário em administração. Depois conheci Margaret; casámos e três anos depois nasceu Susie. Comprámos uma casa pequena com uma hipoteca grande; eu ia e voltava de londres todos os dias. O meu estágio transformou-se numa carreira longa. A vida foi passando. Um inglês qualquer disse uma vez que o casamento é uma refeição longa e sem sabor com o pudim servido como entrada. Acho que é excessivamente cáustico. Gostei do meu casamento, mas era talvez demasiado parado - demasiado pacífico - para me ser benéfico. Ao fim de doze anos, Margaret começou a andar com um tipo que geria um restaurante. Eu não gostava muito dele - nem da comida dele, por sinal - mas também não podia, não é? A custódia de Susie foi partilhada. Felizmente, não pareceu muito afetada com a separação; e vejo agora que a ela eu nunca apliquei a minha teoria sobre danos.
Após o divórcio tive alguns casos, mas nada sério. Contava sempre a Margaret quando tinha uma namorada nova. Nessa altura parecia uma coisa natural. Agora às vezes penso se seria uma tentativa de lhe causar ciúmes; ou talvez um gesto de autodefesa, um modo de evitar que a relação se tornasse séria demais. Também, na minha vida então mais vazia, arranjava várias ideias a que chamava "projetos", talvez para as fazer parecer exequíveis. Nenhuma delas deu nada. Também não interessa; nem faz parte da minha história.
Susie cresceu, e as pessoas começaram a chamar-lhe Susan. Quando fez vinte e quatro anos casou-se e acompanhei-a a uma conservatória do registo civil. Ken é médico; já têm dois filhos, um rapaz e uma rapariga. As fotografias deles que trago na carteira mostram-nos sempre mais novos do que são. É normal, eu acho, para não dizer "filosoficamente evidente". Mas damos connosco a repetir: "Crescem tão depressa, não crescem?", quando o que queremos dizer é: o tempo passa mais depressa para mim, hoje em dia.
O segundo marido de Margaret revelou não ser suficientemente pacífico: foi-se embora com alguém que se parecia muito com ela, mas tinha os cruciais dez anos a menos. Ela e eu mantemos uma boa relação; encontramo-nos em eventos familiares e almoçamos às vezes. Uma vez, depois de um copo ou dois, ficou sentimental e sugeriu que podíamos reatar. Já aconteceram coisas mais estranhas, foi o que ela disse. Sem dúvida, mas agora eu já estava habituado às minha rotinas e apegado à minha solidão. Ou se calhar não sou suficientemente extravagante para fazer uma coisa dessas. Falámos uma ou duas vezes em ir de férias juntos, mas acho que cada um esperava que o outro planeasse a reservasse viagens e hotéis. Por isso nunca aconteceu.
Julian Barnes in " O Sentido do Fim ", Quetzal Editores, Lisboa, 2011, pp 60 - 61.
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