21/01/12

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 " Quando os olhos tiverem chorado "



Quando os olhos tiverem chorado quase tudo
e pressurosos de um sossego relativo
encontramos novo suor em nosso rosto -
quando ainda sobrevivente o cansaço
descobrir o instante árduo da ternura -
quando a ternura ainda for coerente
e todas as coisas apressadas voltarem
a ter sombra necessária e os mansos bois comerem
boninas pelos vales estrumados de domingos -
quando as semanas os meses e os anos
surtirem tão imperfeitos como
imperfeitos são os sofrimentos mais reais -
quando inventamos imagens para visitar
as rosas e entre os salgueiros consentidos
desfolhamos as nossas pálidas faces
de animais tão tristes -
quando o mar desdobrar para as nossas mãos
famintas aqueles navios sonhados em criança
e enternecidos pela maresia do cais
reavermos o caminho não andado -
quando pressentirmos que o sinal
definitivo é estarmos nus e orvalhados
pela concórdia apenas possuirmos além de algumas
borboletas esse desamparado júbilo de tudo -
quando o acréscimo nunca for negado
e os peregrinos entre as páginas
do exílio clamarem pelo odor
de origem... bruscamente
inacabados em dor
ver-nos-emos próximos da impossuída
descoberta de um encontro único.

 Oscar Bertholdo in " Molho de Chaves ", EDUCS - Editª da Univ. de Caxias do Sul,
Caxias do Sul, 2001, p 29.
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