15/04/08

Inabalável Memória

SALOMÉ


Olha-se a furto, inquieta, nos espelhos
que lhe reflectem a beleza e a graça...
E sacode, fremente, quando passa,
as anilhas de prata dos artelhos...


Ergue-se toda e logo cai, de joelhos.
Os perfumes são quentes; a luz, baça...
E aquele corpo já não anda, esvoaça
sobre os tapetes flácidos, vermelhos...


E corre sempre! Tilintando, as contas
como serpentes perturbadas, tontas,
cingem-lhe os braços, o pescoço, a trança.


Desmaiam chamas... Vai surgindo a Lua...
Deusa do Ritmo, Salomé, flutua,
e ri, num grande riso, e dança... dança...


Virgínia Vitorino, In "Apaixonadamente"