11/04/08


                       " Poema  5 "


De muitas formas se diz a minha luz
De muitos modos me visita o meu anjo
Vem devagarinho. Por dentro me rasga com navalhas
de cristal. Veste-me de âncoras na turbulência dos
abismos. Molda-me com esperas na voraz negritude
da cidade. Às vezes, na deriva repetida das pedras,
ensina-me o silêncio que tudo mostra, e à noitinha,
na solidão dos bosques, enfeita de estrelas os
espelhos onde me deito

De muitas formas se diz a minha luz
Vem comigo ao sussurrar das ondas, e aí, no janelo da
tarde, diz-me palavras p'ra que a minha tristeza não
alastre. Desliza também nos palácios dos subúrbios,
nos espaços nevados de brilhantes, onde a melancolia,
redil de gestos impossíveis, inventa reinos que só eu
habito

De muitas formas se diz a minha luz
Por fim, numa pausa de murmúrios, numa paleta de
cheiros bem fortes, deixa meu corpo feliz na alegria
revolta da terra


Mateus, Victor Oliveira. A Noite e a Voz. Lisboa: Universitária Editora, 2001, p 21.
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