Foto de Nuno Fernandes, sem título
Tanto Amor
Tanto amor imaginado
em condição de brinquedo
sem atinar com o sentido.
Tanto amor predestinado
para terminar tão cedo
no branco peito do olvido.
Tanto amor transfigurado
na solidão sempre ledo
pelo tempo de vivido.
Tanto amor acobertado
pela sombra do arvoredo
para depois desmentido.
Tanto amor atenazado
cede, não cedo não cedo,
pelo que já está cedido.
Tanto amor em bom-bocado
pelo quinhão do segredo
que foi à praça vendido.
Tanto amor recomeçado
mais belo após o degredo
pela arte de haver fugido.
Tanto amor entregue ao lado
da fúria sem nenhum medo
de haver matado e morrido.
Tanto amor pefeito amado
acima de todo enredo
por jamais existido.
Henriqueta Lisboa, In "Além da Imagem"