10/04/08
"Aos vinte e três ou
vinte e quatro anos"
Tinha estado desde as dez e meia no café,
à espera de que o outro viesse.
A meia-noite passou - e ainda esperava.
E passava agora da uma e meia; o café
quase por completo se esvaziara.
Fartara-se já de ler os jornais
maquinalmente. Dos seus três solitários xelins
apenas um restava: tanto tempo à espera,
e os outros gastara em cafés e brândi.
Fumara todos os cigarros.
Tão longa espera acabava-o. Porque,
assim sòzinho horas, começara
a ser tomado por inquietos juízos
da vida dissoluta que levava.
Mas quando viu o seu amigo entrar - num instante
cansaço e tédio, e pensamentos sérios foram-se.
O amigo trazia grandes novidades:
ganhara ao jogo sessenta libras.
E os rostos belos deles, a juventude esplêndida,
o sensual amor que havia entre ambos,
renovaram-se, reanimaram-se, ganharam novas forças,
com as sessenta libras da casa de jogo.
Radiantes de alegria, transbordando vida,
os dois sairam - não para casa de suas respeitáveis
famílias
(onde aliás não eram desejados),
mas para uma casa conhecida, casa
de má nota. Foram e pediram
um quarto, bebidas caras, e beberam.
E quando as bebidas caras se acabaram
lá pelas quatro horas da manhã,
alegremente entregaram-se ao desejo.
Poema de Konstandinos Kavafis
(Traduzido por Jorge de Sena)
In "90 e Mais Quatro Poemas"
(Nota acerca da palavra "sòzinho":
nunca actualizo a grafia das edições.)