23/04/08



              " Poema 2 "


Às vezes também os homens
espreitam na margem do oásis, vagueiam com desespero
no tosco emaranhado das dunas. Às vezes também eles,
por entre os cedros, em mim desenham um estranho mistério;
falam alto, gesticulam... São suas vozes uma ave inusitada no
azulado entardecer do Deserto. Mas eu finjo nem perceber.

É no Longe o que procuro
bem no centro desta paisagem, no macio regaço dos povos
nómadas, onde as caravanas se balanceiam sem nunca se
deterem
O meu lugar é um minúsculo e límpido poço, todo rodeado
de seixos, para lá do ocre de tantos palácios antigos - é o
lugar onde não sou, um estilhaçado vitral que ninguém vê,
mas que liberta


 Mateus, Victor Oliveira. Pelo Deserto as Minhas Mãos. Carcavelos: Coisas de Ler, 2004, p 13.
.