Para habitar esse tempo,
era necessário desnudar-se
até o âmago de toda palavra,
latejar a sede na anunciação
das primícias maduras.
Para respirar esse instante
desatado de relógios e datas,
era preciso latejar o cerne
da emoção mais viva,
inscrever o agora no fluir
da lua e das tempestades.
Esse tempo sabe soletrar
a nudez da inocência,
sabe nomear o azul
do esquecimento,
o norte da alegria.
Para habitar essa hora,
era necessário despir-se
até a origem de todo sorriso.
Alexandre Bonafim, In "A outra margem do tempo"