09/04/08




             " Cais "


agora que embarcados rumamos ao sol nascente
na traineira que outrora sabíamos abandonada
talvez se aproxime de novo a luz que nos separou


porque o amor não é apenas o outro lado do ódio
é também uma calha de afectos e reencontros
ainda que no cais onde ancorámos a solidão
tenha ficado para sempre o medo de sermos um


agora que embarcados rumamos ao sol nascente
naufraguemos de novo os corpos num mar de cetim
para que não mais a luz se dispa da sombra
para que não mais os dedos sangrem de espera

Henrique Manuel Bento Fialho, In "Cerejas
poemas de amor de autores portugueses
contemporâneos"