23/04/08




                                
                " Poema  26 "


Ninguém sabe como começa
o irrefreável movimento dos mercadores, esse burburinho
forte quando pelo chão espalham os seus produtos
Ninguém sabe como no azul das camionetas se amontoam
tantas coisas incríveis: homens, cestos, galinhas... é uma
enchente ao despique com o vagido dos dromedários, com
os gritos dos berberes a quem só vejo os olhos
E vêm também uns jograis do outro lado do Mediterrâneo:
cabriolam, mimam actos desconexos, tecem imagens a seu
bel-prazer em poemas curtos e de rápido efeito

Ninguém sabe como começa
o instante em que me aproximo: calado, nu, completamente
indefeso. Frente ao turbilhão - eu, com todas as mazelas
à mostra; eu, pequena Viagem dentro de outra bem maior.
Mas que importância tem esta incauta leveza se estou
apenas de passagem?

 Mateus, Victor Oliveira. Pelo Deserto As Minhas Mãos. Carcavelos: Coisas de Ler, 2004, p 61.
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