05/04/08
" Poema 25 "
Sobre o verde a triste joaninha
saltita com os seus pézinhos de joaninha
dança as suas danças de joaninha
ama com o seu coraçãozinho de joaninha
Durante alguns minutos
faz o seu número de equilibrismo
no rebordo dourado do pires
lança-se de improviso
para o trapézio na asa da chávena
e impõe um estranho sapateado
na capa do último Josef Winkler
que acabei agora de ler
Sobre o verde da mesa verde
a triste joaninha improvisa todos os números
para os seus pézinhos de joaninha
para o seu coraçãozinho de joaninha
Durante alguns minutos
toma o seu banho
na bica já esfriada
assobia mecanicamente
encostada ao copo de água
enquanto alisa as suas antenas
de erudita deprimida
para a sua questão fundamental
de joaninha:
"então ó meu grande parvo
a vida é apenas isto?"
Mateus, Victor Oliveira. A Noite e a Voz. Lisboa: Universitária Editora, 2001, p 61.
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