23/04/08



                       "  Poema  3 "


Que voz chora por mim
no outro lado das grandes pedras? Que lamento? Que murmúrio
por entre a sombra rala dos arbustos? Talvez seja o vento: o zurzir
de um estranho vento oceânico no meu rosto enquanto durmo. Ou
talvez seja o sol, que esgarçando as longas nuvens, cai depois a
pique sobre o meu corpo. Ou ainda - quem sabe?- talvez nenhuma
dessas coisas seja, mas apenas o esquivo sibilar de um réptil no seu
ardil para me tentar

Mas não, nada disso poderá por mim chorar no outro lado das
grandes pedras. Nada, a não ser o eco dos teus olhos; o azul
desmaiado desses olhos, onde o meu sonho era um barco
impossível e as palavras soçobravam na raiz do meu desejo


Mateus, Victor Oliveira. Pelo Deserto as Minhas Mãos. Carcavelos: Coisas de Ler, 2004, p 15.
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