08/04/08


           " Poema 12 "


Descer-te o corpo palmo a palmo
Descer-to como quem sobe ao cume do mais alto
monte, como quem encontra a firmeza de um
espaço, para o qual nenhuma língua tem nome
Descê-lo ou moldá-lo, nem eu sei bem: o rosto
jovem, o sedoso peito, as coxas; descê-lo e
construir o murmúrio sibilante do vento, ou de
uma boca entreaberta no rumor ofegante da
tarde


Descer-te o corpo palmo a palmo
Não o corpo fardo, prisão, informe desejo que
a si se basta numa infindável corrosão de tudo,
mas um corpo luz, amigo, que sorrindo aquilo
que o excede a mim entrega


Mateus, Victor Oliveira. Pelo Deserto as Minhas Mãos. Carcavelos: Coisas de Ler, 2004, p 33.
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