Deusa imortal, do teu ornado trono,
tecelã de mil penas, Afrodite, escuta:
não atormentes mais com pesar e angústias
minha alma senhora,
aproxima-te antes, se a minha voz ao longe
de novo ouviste e me escutaste
e deixando para trás tua esplendorosa casa
pátria vieste,
após jungir teu carro; belos gorriões
à negra terra ligeiros se atiravam
e com suas fortes asas desde os céus
o ar fustigavam.
E pronto chegaram, e tu, ditosa,
com teu divino rosto me sorrias
perguntando-me o que se passava, por que
outra vez te chamava
e o que quero que em minha alma louca
aconteça agora: "A quem desejas
que teu amor eu leve? Ai, Safo, diz-me,
quem assim te faz dano?"
Pois se de ti fugiu, em breve virá buscar-te;
se aceitar não quis, oferendas te fará;
amar-te-á prestes, se te não ama,
ainda que o não queira."
Vem também agora, livra-me de tão amargas
penas, consente o que a minha alma
anseia ver cumprido e sê nesta guerra
minha aliada.
Safo,"Fragmentos Poéticos" (Trad. de Victor Oliveira Mateus),
Ed. Coisas de Ler