23/03/12

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 " As Raízes Persistentes "

         para Albano Martins
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Traça a nítida verticalidade do gesto.
O atento sentido da página, aquele
que, paralelo ao vento, se lança
sobre os eucaliptos, sobre as janelas
entreabertas ou na colina que aos lábios
se oferece. Desenha o voo das gaivotas

através de um oceânico azul, ali,
onde os hipocampos se perfilam e o desejo,
nos andaimes da espuma, é um murmúrio
de praias ensolaradas. Arranca da porta
as ervas daninhas, essa baba de palavras
mecânicas eivadas de vazio com rastos

de inércia à mistura. Observa, por fim,
o movimento das algas firmando-se
nas crateras das rochas, na inteireza
dos poros intraduzíveis, pois, como o poeta,
é assim o dizer que não vacila, as raízes
persistentes e são assim as algas.

   Mateus, Victor Oliveira in 100 Poemas para Albano Martins. Fafe: Editora Labirinto, 2012, p 119 ( org. Maria do Sameiro Barroso, prefº Eduardo Lourenço).
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