06/03/12

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  " Vírus "

 
Há uma tristeza inerme nos feriados,
uma entrega do pulso das cidades
a um vírus insidioso
habitante das janelas onde
nada está para chegar
ou para partir. Lá dentro cumpre-se o decálogo
dos cansaços. Cá fora perdemo-nos
no planetário do asfalto, na vã arritmia
dos semáforos acesos. As fachadas
transbordam de umbrais vazios
e as frontarias bancárias da Baixa
semelham basílicas fechadas ao culto. À beira-mar
grupos de catalépticos auditores da Bola
oriundos de algum centro comercial
passeiam filhos, esposas e animais de companhia
até às esplanadas da outra margem,
para regressos na fila de escapes do crepúsculo.

  Lourenço, Inês. Câmara Escura, Uma Antologia. S/c.: Língua Morta, 2012, p 16.
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