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" Tão ao gosto popular "
Pudéssemos nós compreender
porque é que o outro raramente
é uma preocupação sincera
em nossas vidas
mas que são raras as vezes
em que não o queremos foder,
então alcançaríamos o significado
da existência que levamos,
seríamos o próprio deus
que nos fez à sua imagem.
Passado e futuro seriam o mesmo
e o presente ninguém.
E o vinho que um homem bebe
( enquanto observa o seu filho
a brincar às existências,
como uma garrafa que nunca vaza)
haveria de ser tão vão
quanto uma oportunidade
perdida em que a memória não sabe onde.
O filho seria o seu
próprio cadáver rejuvenescido.
Pudéssemos nós compreender,
assim como se faz um filho,
tão ao gosto popular.
Miranda, Paulo José. O Tabaco de Deus. Lisboa: Edições Cotovia, 2002, p 23.
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