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" Mapa-Múndi "
( os dois hemisférios)
ficamos a respirar o ar um do outro, o ar de um passado
que nos construiu, que mais
do que nos fazer sobreviver, sobreviveu ele mesmo em
nós:
é um ar que continuamos a respirar, que mal se distingue
do ar comum, e eu sinto o teu, sabe
a laranja sepultada em chocolate negro,
como um pequeno abraço
no busto de um lagarto feliz:
respiro-o como se o sugasse, com uma palhinha
de sombra esquiva
que se ajusta aos contornos das imagens
que me arrombam os olhos:
e fazemo-lo mutuamente, e algum desse ar choca
no ar comum; outro
muda de cor ou de fruto ou cega um feitiço ou colhe
uma dália numa memória futura; quando
terminarmos por hoje, passaremos às lágrimas, e o
resultado
de tudo isto, se assim tiver de ser, é a palavra
mais vulgar do mundo;
Nené, Tiago. Relevo Móbil Num Coração de Tempo. Póvoa de Santa Iria: Lua de Marfim Editora,
2011, p 51.
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