27/04/09




"Salomé após o crime"

Quantas vezes te vi
e me surprendi porque te olhava?
Sentindo a tentação de te espiar
e o desejo de amar
o que não tinha

Como saber
pelos sonhos mais nus
que me assaltavam
que eu não era paisagem
para ti?

Dizem luxúria só
onde houve amor
e um crime tão enorme de luxúria
mas eu quis-te indefeso
como festa
os teus lábios a festa para mim

Quantas vezes me vi
pensando no meu crime
e na história dos homens
a julgar-me!

Mas o que eu li
na bandeja do crime
foram os olhos com que tu
me olhavas
(finalmente eu paisagem)

e a luxúria
que há sempre
no amor


Ana Luísa Amaral In "Às Vezes o Paraíso", Quetzal Editores,
Lisboa, 1998, pp 100-101.
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25/04/09




"Quem sou eu? Qual é o meu nome? Quais são os meus títulos de nobreza? Nada, nada. Sou um servo e nada mais. Nada me pertence, nem sequer a vida. Deus é dono de mim, dono absoluto, para a vida e para a morte. Pais, parentes, senhores do mundo: o meu único e verdadeiro dono é Deus.(...) Diante dele, permaneço em sentido, imóvel, como o mais pequeno soldado perfilado perante o seu superior, disposto a tudo, inclusivamente a lançar-me ao fogo. Este deve ser o meu ofício durante toda a minha vida, porque nasci assim; sou um servo. Devo considerar-me sempre nesta condição de servo; não tenho um único momento em que possa ocupar-me de mim mesmo, servir o meu capricho, a minha vaidade, etc. Se o fizer, sou um ladrão, porque roubo um tempo que não é meu, sou um servo infiel, indigno de recompensa. Ai de mim, é o que tenho feito, que confusão, que vergonha.Tanta soberba e presunção, pois nem sequer sei ser servo. (...) Por isso, quando me sirvo das criaturas para meu prazer, transtorno a ordem da Providência, quebro a admirável harmonia do universo..."
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João XXIII In "Diário da Alma", Paulus Ed., Lisboa, 2000, pp 110-112.
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23/04/09



"O Futuro"

Isto vai meus amigos isto vai
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente.

Isto vai meus amigos isto vai
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente.

Depois da tempestade há a bonança
que é verde como a cor que tem a esperança
quando a água de Abril sobre nós cai.

O que é preciso é termos confiança
se fizermos de Maio a nossa lança
isto vai meus amigos isto vai.


José Carlos Ary dos Santos In "Obra Poética",
Editorial Avante, Lisboa, 1994, p 389.
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22/04/09

as palavras... ainda


o meu agradecimento aos blogues que, nas últimas semanas, publicaram poemas meus,
de livros antigos ou recentes, e dos quais destaco apenas os que vi: "ao longe os barcos de flores", "Logros consentidos", "Maquina Royal", "piano", " Ortografia do olhar", "o pó da escrita", "sulmoura", "Dois Rios", "Magazine"...
Percebi o apoio e... não sei como se agradecem coisas destas! Talvez deixando aqui a foto
da Eugénia Bettencourt... Todos conhecemos esta voz, que, durante anos, na Antena 2, nos
"Sons Férteis", disse textos de muitos e muitos poetas. Talvez possa agradecer-vos com a
foto de uma actriz... aqui dizendo poemas meus, mas que gostariamos de rever (ou reouvir?)
numa reposição do "Sons Férteis"...

20/04/09


"Buscador"

Dónde vas buscando rosas
si el rosal lo tengo yo?
Cada dia y cada noche,
dónde vas buscando amor?

Buscador de las cien puertas
en la búsqueda sin fin.
Cuando las cien puertas abras
Habrá otras cien por abrir.

Buscador,
lo que tú buscas lo tengo
dentro de mi corazón.
Buscador, convéncete:
yo tengo lo que tú buscas
y no me quieres tener.

Tu sed, tus ojos, tus manos
nunca dejan de buscar.
Buscador de las cien rosas
separadas del rosal.

Buscador de las cien puertas
y las cien olas del mar.
Cuando encontres lo que buscas
será espuma y se te irá.

Buscador,
lo que tú buscas lo tengo
dentro de mi corazón.
Buscador, convéncete:
yo tengo lo que tú buscas
y no me quieres tener.

António Gala


Nota - este poema foi tirado do CD "Clara Montes canta a Antonio Gala".
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18/04/09

Icelake (Alberta) foto do canadiano Darwin Wiggett
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Quand je ne pense pas à toi, je pense à toi. Quand je
parle d'autre chose, je parle de toi. Quand je marche
au hasard, j'avance vers toi.
Je quitte les livres où tu n'entres pas. Je jette les poèmes
qui ne trouvent pas tes lèvres. J'efface les tableaux qui
n' attirent pas tes yeux. J' éteins les chansons qui
n'éveillent pas ta voix.

André Velter In "L'amour extrême et autres poèmes pour
Chantal Maudit", Éd. Gallimard, Paris, 2007, p120.
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16/04/09

FERNANDA DE CASTRO, um afectuoso olhar sobre o quotidiano...

"Haute Couture" foto, do ciclo "Rêves et Désirs", de autoria de Gilles de Beauchêne.


"O Saco de Retalhos"

Velho saco, onde estavas? No baú
das coisas mortas,
esquecidas como tu?
Guardado na gaveta
como as sedas, as cassas,
os ramos de violeta,
a poeira e as traças?

Velho saco, onde estavas? Pendurado
numa daquelas portas
que um dia se fecharam
sobre a infância, o passado,
e nunca mais se abriram?

Ou no sótão,
na trouxa dos farrapos,
misturado com os trapos?

Velho saco dos tempos esquecidos,
nos teus retalhos desbotados
reconheço os meus bibes,
as chitas e os percais dos meus vestidos.

Estes velhos riscados
foram saias, corpetes, aventais
de criadas que então eram meninas.
E estas cambraias, estas sedas finas,
usou-as minha mãe.

Ó velho saco, feito de retalhos,
rever-te fez-me bem.
Este linho desfeito, remendado,
foi lencol de noivado,
e quantas vezes te vi pôr na cama,
ó minha ama,
esta chita vermelha de ramagens.
Meu velho saco, meu livro de imagens,
rever-te fez-me bem.

Não sei, porém,
que travo amargo esta alegria tem,
que tristeza me fez, que nostalgia,
ver surgir na distância
a minha infância,
descosida, em farrapos,
e reencontrar a minha mocidade
remendada e puída
numa saca de trapos.

Ó saco, ó velho saco de farrapos,
já não sei, afinal,
se ver-te me fez bem ou me fez mal.

Fernanda de Castro In "70 Anos de Poesia", Fundação Eng. António de Almeida,
Agosto, 1989, págs. 126-127.
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11/04/09



um amante assim nunca houve, disse cleópatra.

quando o vi chegar como poderia supor o que
vos afirmarei?

cabisbaixo,
apoiado naquele bordão de forma imprecisa,
o andar errante,
os lábios trémulos, febris...

e os gestos eram de muito longe, como quem vem de
muito longe,
gestos de rei ultrajado, assim pensei.

e o olhar, ah aquele olhar líquido, fundo,
de cão perdido,
despindo a paisagem, o pomar e o vale e o meu
corpo em fogo,
refulgindo no ouro das vestes,
nas preciosas pedras, diamantes tantos, no
peito, nos dedos, revestindo os cabelos...

nunca houve um olhar assim,
rasgando a carne, as entranhas, a minha alma nómada
e repleta de impressões.

ninguém soube ao certo donde vinha,
que regiões conhecera,
que destino o trazia ali, ao império do oriente, ao
reino de alexandria.

o oráculo, afrodite a pitonisa, ptolomeu o sábio e
orim o mensageiro eunuco, só o nome retiveram-

jeremias JEREMIAS -- vejam lá!

alguém partira entretanto, no rumo da terra
fenícia e da terra síria, combatendo sempre.

por isso jeremias conheceu a cidadela, a orgia,
os banquetes e a arte,
o palácio e os aposentos do palácio
e no mais vasto e indescritível adormeceu.

quando o procurei,
trémula e inebriada e só, ele nada disse e
tomou-me a mão

e fomos descendo, descendo
o nilo antes da cheia,
ouvindo a sua voz divina,
sentindo a sua boca que me subia na mais lenta
lentidão em delírio.

nunca houve um amante assim...
alguém era o senhor da guerra, dos exércitos
e da frota,
o senhor do vinho,
o senhor do êxtase;

jeremias era o deus implacável, avassalador e
estranho.

devorando o meu corpo perfeito,
louco de lágrimas e riso,
gemidos, gritos...
ardendo ardendo...

e a rainha que eu era desfalecia através do
oriente,
abandonada àquelas mãos ávidas,
àquela boca que subia na mais lenta
lentidão, em delírio,

enquanto íamos descendo, descendo o
nilo da minha vida.


José Agostinho Baptista In "Biografia", Assírio & Alvim,
Lisboa, 2000, pp 120-122.
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10/04/09

Foto tirada, em péssimas condições, no Casino do Estoril em 2007, quando
o Miguel Real recebeu o "Prémio Fernando Namora". Da esquerda para a
direita: Ana Paula Dias, Victor Oliveira Mateus, Miguel Real, Teresa Oliveira
e Henrique Levy.


In "J.L." de 21/4/2009:
As características literárias fundamentais presentes na narrativa Cisne de África, primeiro romance de Henrique Levy, autor já conhecido pelo romantismo sagrado dos seus dois livros de poesia (Mãos Navegadas e Intensidades), encontram-se expressas no lúcido prefácio de Inocência Mata, professora da Faculdade de Letras de Lisboa. Neste sentido, reenviamos o leitor para a caracterização geral deste romance feita por Inocência Mata, ensaiando aqui, no JL, uma abordagem diferente, ada sua integração na tradição literária portuguesa.
Com efeito, a leitura de o Cisne de África suscita-nos a suspeita de ser Henrique Levy, na continuidade de Mário Cláudio, Vasco Graça Moura, Bento da Cruz e, de certo modo, A.M.Pires Cabral, um perfeito novelista camiliano. De facto, aplicada ao tempo da Guerra do Ultramar (1961-1974) e aso espaço colonial Português (Moçambique, Lago Niassa e Lourenço Marques), Henrique Levy desenvolve uma narrativa que prolonga e actualiza - indubitavelmente-, em quatro pontos, a técnica narrativa de Camilo Castelo Branco.
Primeiro: uma história de amor trágica. Maria Helena, lisboeta, abandonada no altar pelo noivo espanhol, parte para Moçambique como enfermeira para refazer a sua vida: aqui, em Massicoonono, aldeia indígena do lago Niassa, fronteira com o Malawwi, assumindo uma vida dupla - de dia socorrendo os soldados portugueses; de noite, os combatentes da Frelimo-, apaixona-se por Raimundo Ndahala, comandante dos "terroristas".
Segundo: a narração do triângulo amoroso como figura de tragédia. Entre o amor de Maria Helena e Raimundo Ndhala instala-se o ciúme maligno de Eponine Kathipe, negra, ajudante de Maria Helena na enfermaria militar, espiã da Frelimo no aquartelamento português; Epoline encontra-se igualmente apaixonada por Raimundo Ndhala e, constatando a união entre os dois amantes, desencadeia uma intriga maligna (os militares e a PIDE já saberiam da ajuda de Maria Helena aos combatentes da Frelimo e preparar-se-iam para a prender) que os separa definitivamente (Maria Helena é forçada a fugir para Lourenço Marques, presumindo receber ordens directas de Raimundo).
Terceiro: envolvimento social da narrativa amorosa. Tal como Camilo, Henrique Levy envolve o coração amoroso na história de um conjunto de relações sociais que prestam consistência histórica ao drama romântrico do amor ( C. C. Branco: consequências da guerra civil entre Liberais e Absolutistas; fidelidades de província a D. Miguel ou a D. Pedro IV; intrigas e conflitos entre liberais, entre tradicionalismo português e modernismo industrial...; H. Levy: Guerra do Ultramar, relações com as mulheres da aldeia de Massiconono, especialmente Juliana, mulher-sábia, guardiã das tradições; relações com os agentes da PIDE, com o dr. Rodrigo Noronha, médico militar; vida em Lourenço Marques ao longo da década de 1960...); do mesmo modo, o desenlace trágico é anunciado pelo absoluto ódio (guerra) entre os grupos sociais a que pertence
de raiz cada um dos amantes: brancos contra negros, portugueses contra moçambicanos.
Quarto: envolvimento da natureza na narrativa amorosa através de uma espécie de compaixão mútua. A permanente descrição feita pelo narrador da natirexa luxuriante moçambicana é conducente à exaltação dos sentimentos dos apaixonados numa lógica de mútuo
testemunho e interpenetração.
Narrativa dramática elevada a tragédia existencial, o Cisne de África explora de modo exemplar
as relações românticas, fastas e nefastas, entre os temas do amor, da morte e da separação entre
o desejo e o objecto do desejo, evidenciando, por múltiplos sinais anunciadores, o fecho trágico inelutável (Raimundo Ndhala, ferido em combate, morre suspirando por Maria Helena, que,
regressada a Lisboa, para sempre se isola, guardando as suas desgostosas recordações num diário).
Do mesmo modo, a exemplo das novelas de Camilo, o ritmo narrativo veloz de o Cisne de África,
diverso do do romance, encontra-se repleto de efeitos suspensivos, todos apontando para um
desenlace trágico. O Cisne de África celebra camilianamente, ao modo romântico, ahipostasiação da paixão, desenvolvendo uma retórica sentimental adversa à racionalidade das instituiçoes sociais, nomeadamente, separadora dos amantes. Finalmente, o Cisne de África estrutura-se em
pequenas unidades dramáticas soltas, relativamente independentes, ao modo do folhetim jornalístico e da novela camiliana (15 capítulos para 143 páginas), cujo movimento de passagem
de uma para outra vai compondo a unidade harmoniosa do texto.
Eis o retrato literário do primeiro romance (novela?) de Hanrique Levy, um autor camiliano na
forma e nos valores estéticos, aplicados ao ambiente social da Guerra Colonial, escritor que
escreve mais com a sensibilidade do que com a razão, numa espécie de vitalismo instintivo que
não se encontra longe, nas descrições relativas à natureza, de um paganismo panteísta de matriz
cristã.

Miguel Real "Henrique Levy- um romance camiliano" In "J.L." de 8-21/4/2009, p 24.
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08/04/09




"Das Aves"


No meu silêncio
a tua presença
desde um tempo meu
sem morada
até os dias
que não habitarei.

E simultâneos
numa noite cega
de tanta luz
navegamos
dois pássaros.


Maria do Carmo Campos In "matinas & bagatelas"
Ateliê Editorial, São Paulo, 2002, p 107.
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07/04/09

"não é fácil o amor"


Não é fácil o amor melhor seria
Arrancar um braço fazê-lo voar
Dar a volta ao mundo abraçar
Todo o mundo fazer da alegria

O pão nosso de cada dia não copiar
Os males do amor matar a melancolia
Que há no amor querer a vontade fria
Ser cego surdo mudo não sujeitar

O amor ao destino de cada um não ter
Destino nenhum ser a própria imagem
Do amor pôr o coração ao largo não sofrer

Os males do amor não vacilar ter a coragem
De enfrentar a razão de ser da própria dor
Porque o amor é triste não é fácil o amor


Luis Pignatelli In "Obra Poética", & etc., Lisboa, 1999, p 83.
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05/04/09


"A um amigo"

Fiel ao costume antigo,
Trago ao meu jovem amigo
Versos próprios deste dia.
E que de os ver tão singelos,
Tão simples como eu, não ria:
Qualquer os fará mais belos,
Ninguém tão d'alma os faria.

Que sobre a flor de seus anos
Soprem tarde os desenganos;
Que em torno os bafeje amor,
Amor da esposa querida,
Prolongando a doce vida
Fruto que sucede à flor.

Recebe este voto, amigo,
Que eu, fiel ao uso antigo,
Quis trazer-te neste dia
Em poucos versos singelos.
Qualquer os fará mais belos,
Ninguém tão d'alma os faria.

Almeida Garrett In "Folhas Caídas", Publicações
Europa-América, p 122.
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02/04/09

Elizabeth Bishop


" Invitation to Miss Marianne Moore"

From Brooklyn, over the Brooklyn Bridge, on this fine morning
please come flying.
In a cloud of fiery pale chemicals,
please come flying,
to the rapid rolling of thousands of small blue drums
descending out of the mackerel sky
over the glittering grandstand of harbor-water,
please come flying.

Whistles, pennants and smoke are blowing. The ships
are signaling cordially with multitudes of flags
rising and falling like birds all over the harbor.
Enter: two rivers, gracefully bearing
countless little pellucid jellies
in cut-glass epergnes dragging with silver chains.
The flight is safe; the weather is all arranged,
The waves are running in verses this fine morning.
Please come flying.

Come with the pointed toe of each black shoe
trailing a sapphire highlight,
with a black capeful of butterfly wings and bon-mots,
with heaven knows how many angels all riding
on the broad black brim of your hat,
please come flying.

Bearing a musical inaudible abacus,
a slight censorious frown, and blue ribbons,
please come flying.
Facts and skyscrapers glint in the tide; Manhattan
is all awash with morals this fine morning,
so please come flying.

Mounting the sky with natural heroism,
above the accidents, above the malignant movies,
the taxicabs and injustices at large,
while horns are resounding in your beautiful ears
that simultaneously listen to
a soft uninvented music, fit for the musk deer,
please come flying.

For whom the grim museums will behave
like courteous male bower-birds,
for whom the agreeable lions lie in wait
on the steps of the Public Library,
eager to rise and follow through the doors
up into the reading rooms,
please come flying.
We can sit down and weep; we can go shopping,
or play at a game of constantly being wrong
with a priceless set of vocabularies,
or we can bravely deplore, but please
please come flying.

With dynasties of negative constructions
darkening and dying around you,
with grammar that suddenly turns and shines
like flocks of sandpipers flying,
please come flying.

Come like a light in the white mackerel sky,
come like a daytime comet
with a long unnebulous train of words,
from Brooklyn, over the Brooklyn Bridge, on this fine morning,
please come flying.


Elizabeth Bishop In "The Complete Poems, 1927 - 1979 ",
Ferrar, Straus and Giroux, New York, 1984, pp 82-83.
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O Lançamento de "A IRRESISTÍVEL VOZ DE IONATOS"

Da esquerda para a direita: Maria do Sameiro Barroso, Maria Lucília Meleiro,
Victor Oliveira Mateus e Eugénia Bettencourt.
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