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26/02/10


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Para sobreviver, nunca precisei dos conhecimentos máximos;
tão pouco das horas que se misturavam com os meandros
com os altos e baixos da vida; com a infância que desejei ter vivido;
com a gente que me rodeou, ou que ajudei a que me rodeassem
naquela pontualidade extrema
que foi sempre um dos meus sagrados defeitos. A partir daí
fui de encontro à expressão que julguei coerente e sincera
tentando compreender as ajudas e os apoios
os sentimentos de aproximação e as rejeições
os dogmas e os círculos que se abriam e fechavam
conforme os desejos e os entendimentos.
Tudo isso procurei apreender. No melhor e no pior.
Com dificuldades maiores ou facilidades menores.
No entanto...

José Manuel Capêlo in "A Noite das Lendas", Aríon Publicações,
2000, p 26.
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20/02/09



E se tu não existisses? Se apenas fosses
um secreto lugar onde se escondem as montanhas?
Se ninguém fosse teu, como da terra os oceanos
e os lugares, os dons da luz e da cor?
Poderias ser como o oco das máscaras e dos falsos ocasos
a vulgar penumbra dos lugares e dos rostos indescritíveis
um sorriso pleno aos lugares dos corpos
rio paralelo duma ponte sem margens, sem dor
sem força. E se tu não existisses? Poderias ser
apenas sorriso que se fizesse em lugar reservado
um olhar por entre os corpos que se movimentam
num recinto de dança, entre abraços de ocasião.
Se apenas fosses esse lugar, talvez que os teus olhos
se tornassem azuis de tanto serem verdes. Sorrir-me-ias
com o mesmo encanto, com que teus lábios suavíssimos
se me sorriam, pois longe está o corpo do homem próximo
como perto, está o meu de beleza indómita e selvagem.
Lembrei-te, porque, se existisses, eras meu corpo
nesta terra de alegria. E como é triste esta terra
de alegria-assim, réstea de um lugar onde se vêem
os olhos, que, de tão sedentos, cegos são.

José Manuel Capêlo In "Odes Submersas", Átrio,
Lisboa, 1995, p 35.
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