Mostrar mensagens com a etiqueta Frederico Lourenço. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Frederico Lourenço. Mostrar todas as mensagens

10/07/10

.
"Tempo desdobrado"


Há um respirar alheio ao tempo.
Na geometria dos triângulos,
tudo se abre, nada se fecha.

O contrário não exclui o seu contrário,
e por isso quem respira alheio ao tempo
não deixa de estar no tempo desdobrado.

As tílias espalham em redor o seu perfume
de consonâncias perfeitas,
como no Lindenbaum de Schubert.

Cheira a Verão na Avenida Central
e debaixo das tílias falamos
sobre o curso das estrelas,

cuja história é também a nossa,
desdobrada no tempo
no desdobramento do nosso tempo.

Frederico Lourenço in "Santo Asinha e outros poemas", Editorial Caminho,
Alfragide, 2010, pp 38 - 39.
.

08/07/10

.
Restituir-me por inteiro é dar-me até ao fim.
No jardim barroco, tanques e repuxos gelaram
durante a noite, mas os limoeiros estão intactos
contra os muros caiados de branco.
O gelo no chão não tocou as flores da laranjeira:
este Dezembro, as fontes geladas e as flores
partilham a manhã em conciliada coexistência;
ao meio-dia o termómetro continua abaixo de zero,
mas as árvores meridionais frutificam.
Assim dar-me por inteiro não me isenta de mim,
do mesmo modo que na manhã de Dezembro
a fonte gelada não impede a laranjeira de florir.

Frederico Lourenço in "Santo Asinha e outros poemas", Editorial Caminho,
Alfragide, 2010, p 13.
.