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27/07/08

" O Pescador"


Há vício no meu olhar fixo
basta lançar a linha e logo serena
em mim o desassossego
os olhos repousam no flutuador, mas é mais
que repousar, é como se finalmente
estivesse livre para não sair do sítio,
e assim o meu olhar fica inerte - não espero
que o peixe morda - fixo
o momento. Não preciso de nada não preciso
de olhar. Concentro-me nas rugas à superfície
não me esforço em penetrar até ao fundo.
Indiferente ao que possa aparecer, desaparecer
por cima ou por baixo de mim, indiferente
ao que foi e indiferente ao que está para vir.
As cores lisas a brilhar à tona da água
já são acontecimentos a mais
e vejam, eis o primeiro círculo
de algo que caiu na água ao longe.
Nada melhor do que não fazer nada,
do que não me mexer. Até um mínimo
erguer de olhos perturba irremediavelmente a ordem
e faz acontecer, faz acontecer.

Judith Herzberg, do livro "Botshol" (1981), In
"O que resta do dia", Ed. Cavalo de Ferro, p 125.

26/07/08

         " Frequência "


O teu número de telefone martela-me na cabeça
um ressoar ligeiramente agitado. Está em tudo
o que faço, impõe-se enquanto leio
enfia-se por baixo das palavras enquanto
escrevo.
E se o deixar um momento à solta
corre então para o telefone e liga
para que a tua casa vazia ressoe
um som que ninguém ouve. Talvez
uma chávena vibre com ele se o tom
atingir a sua amplitude.
Quando muito estala uma jarra.

Judith Herzberg, do livro "Botshol" (1981) In
"O que resta do dia", Ed. Cavalo de Ferro, p 119.