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"Poema XXXVII"
Nunca sabemos o nome dessa constelação
que nos cega. Como sonâmbulos, tateamos
o rumo dos meteoros, o luzir dessa sílaba
a amadurecer nossa humanidade. Jamais
conhecemos o segredo desse horizonte
que nos fecunda. Sem roteiros, sem mapas,
erramos por entre noites de profundo silêncio.
Nessa caminhada, sem paradeiro, sem itinerário,
as surpresas tatuam em nossos ombros
a fulguração das galáxias mais altas. É nossa
eterna sina talhar nos sonhos a rutilância
dos astros esquecidos. Nunca ouvimos
o acorde dessa estrela que nos esculpe.
Somente os milagres nos guiam, sempre,
rumo às nascentes de todas as palavras.
Alexandre Bonafim in "Sagração das despedidas", Biblioteca 24x7,
São Paulo, 2009, p 50.
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02/04/10
03/05/09
Cresço no íntimo de tua carne
como fruto túmido,
tombado de um paraíso esquecido.
Em volutas adenso-me
num mar selvagem:
centauro de múltiplas águas
a queimar os muros do teu sonho,
do teu inominado mistério.
Nesse resfolegar de patas e crinas,
desvario de lençóis e adagas,
nos ilimitamos nas sinfonias,
nos adágios tatuados em nossos pulsos.
Eis que do fundo da noite
emerges numa explosão
de ilimitados astros:
cometas a rasgarem tua glande ereta,
coice sobre o meu rosto em vivo êxtase...
Alexandre Bonafim In "Sob o silêncio do anjo",
Ribeirão Ed., Franca-S.P., 2009, p 40.
23/04/08
Em minha voz, um veleiro traçou um rito de espantos,
um itinerário de espumas em despedida. Nas origens
do mundo, o vento batizou o meu nome, imprimiu,
em minha pele, um sol sem margens, um dia sem muros.
Na manhã em que nasci, um bando de garças
iluminou o profundo silêncio dos milagres.
Alexandre Bonafim, In "A Outra Margem do Tempo"

Para habitar esse tempo,
era necessário desnudar-se
até o âmago de toda palavra,
latejar a sede na anunciação
das primícias maduras.
Para respirar esse instante
desatado de relógios e datas,
era preciso latejar o cerne
da emoção mais viva,
inscrever o agora no fluir
da lua e das tempestades.
Esse tempo sabe soletrar
a nudez da inocência,
sabe nomear o azul
do esquecimento,
o norte da alegria.
Para habitar essa hora,
era necessário despir-se
até a origem de todo sorriso.
Alexandre Bonafim, In "A outra margem do tempo"
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