Mostrar mensagens com a etiqueta Umberto Saba. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Umberto Saba. Mostrar todas as mensagens

21/03/11

" (...) O teu delito/ não é grave: é teres-me um pouco olvidado."


.
"Carta"
.
Mando-te, amigo, dois poemas que são
as últimas palavras de alguém sobre a terra,
ligadas a um fio que a guerra romper
não pode, nem juvenil o teu delito.
.
Se te agradou, para nós dactiloscrito
sonho mediterrânico, aquele azulado
folheto que como dom
te deixava partindo, hoje tu, que és bom,
junta-os aos que são para Telémaco. Em breve,
espero, de novo nos veremos. O teu delito
não é grave: é teres-me um pouco olvidado.
.
.
Umberto Saba in "Poesia", Assírio & Alvim, Lisboa, 2010, p 371
(selecção, tradução e introdução de José Manuel de Vasconcelos).
.

17/01/11

" Assim, meu amor, se estiveres longe,/ assim falo contigo... "

.
" A escrava"

Agora eu sou um jovem senhor,
e tu és a minha escrava. Vá, não me digas
que não, palerma; eu sei bem que é um sonho;
mas o sonho de que vivo é a verdade.

Comprei-te, bem longe daqui,
àquele velho de turbante, um dia em que estava
muito infeliz. E como soluçavas,
logo um beijo te dei, seguido de boas
coisas e de doces palavras. Agora és minha,
és a coisa que tenho; poderia minha menina
até bater-te; mas longe disso só bem
te farei; far-te-ei entre dois beijos
se não mo disseres, pensar ao menos: É belo,
quando se é escravo, ter um amo bom.

Assim, meu amor, se estiveres longe,
assim falo contigo, que já na cama,
mal acordo, no meu coração começo
a falar-te, a pensar em ti, a delirar.

Umberto Saba in "Poesia", Assírio & Alvim, Lisboa, 2010, p 141 ( selecção,
tradução, introdução e notas de José Manuel de Vasconcelos).
.

14/01/11

" Questo pane ha il sapore d'un ricordo,/ mangiato in questa povera osteria, "

.
"Dopo la tristezza"

Questo pane ha il sapore d'un ricordo,
mangiato in questa povera osteria,
dov'è píù abbandonato e ingombro il porto.

E della birra mi godo l'amaro,
seduto del ritorno a mezza via,
in faccia ai monti annuvolati e al faro.

L'anima mia che una sua pena ha vinta,
con occhi nuovi nell'antica sera
guarda un pilota con la moglie incinta;

e un bastimento, di che il vecchio legno
luccica al sole, e con la ciminiera
lunga quanto i due alberi, è un disegno

fancuillesco, che ho fatto or son vent'anni.
E chi mi avrebbe detto la mia vita
così bella, con tanti dolci affanni,

e tanta beatitudine romita!

Umberto Saba in " Poesia", Assírio & Alvim, Lisboa, 2010, p 76.
.