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15/10/13


(...)
Ora viva! Como tem passado?
Está bonzinho?
Estas lapelas acusam cansaço
E o pescoço
Desce em pregas sumidinho

.....

Desempregado!
Busque - busque
O ossinho há-de surgir
Para roer

....

Pois - na verdade
O contentor recheadinho
Abre a porta
A cada estômago
Que se torce apertadinho
Por não saber entender

....

Não. Não. Nunca se sinta só
Indignado? Como?
Tenha juizinho
Mantenha a calma
Há que colaborar no tempo
De calar as mãos
Por ser nobre o servicinho

....

Ai! Por favor
Não diga isso
Eles até vão sofrendo
Injustamente
Falhazinhas de calvície
Ao salvar o paísinho

....

Pois - pois
Bem sei do suplício
Milhares de toca perdida
Alternar? E a honrazinha?
Como sabe
Assim é por ser preciso

....

Oiça. Quer um conselho?
Deixe correr a vidinha
Respire na rua o consolo
Afinal
É preciso saudinha


   Puga, Ana Maria. Área de Serviço. Fafe: Editora Labirinto, 2012, pp 11 - 13.
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18/06/11

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Sem defesa - de um olhar-goraz - uivando à nossa mesa
Mes AMIS
Ferva um caldo de marcas e siglas ao lado da minha enxerga
Algumas queimam no vagarzinho e nem as consigo enxergar
Nem sempre o que ferve se purifica - na estreiteza do escaninho

BPP e BPN - sem dispêndio nas insónias - sem suar ao sol d'AMI

Em manobras de um agudo tilintar
Na quietação sem ciência de outro mar

OPTIMUS
Não as oiço... Nem enxergo estas encíclicas
Falta de destreza - numa côdea de pobreza
De quem rejeita o intuito de abreviar
Quando se perde na justa medida
A vida que de breve só se atreve
De alma lenta em tudo para durar

"Abençoados os pobres de espírito"
Pois deles não é o reino da terra

E o mundo - uma centopeia de olhares musculados
Eléctrica e sem fios - na corrente de todos os desafios
Rastejando na prontidão dos passos imaculados
Até no instante da extrema-unção
Competindo dentro e fora das feiras e dos mercados
- Não há sardinhas na grelha como as que compro e vendo
(De maxilares saciados na verdura das alfaces sem sabor
Até dizem que a alface faz enxergar melhor)

O mundo em travessas - girando na devoção ao labor
Uma centopeia sem miopia nem vista cansada
De patas grossas - gravando na eira do tecno-rafeiro
( Cão seja - Fiel por baptismo)
O território da sardinha que não quer perder o peso
Na comunhão sem azia de uma salada sem cheiro

E o futuro está na alfa-sardinha
TGV de todos os continentes
De rápida extensão em verdes-faces

( Pois - não é verdade que quem tem olho tudo enxerga?)

BPP e BPN
Siglas - varinas de espreitar entre saias os peixes miúdos
De atacar nos bês e nos pês e nos Nez os perfumes
E temperos - na caldeirada de intestinos façanhudos
Sobre as patas de engrossar a canastra dos milhões
Regateando sem cansaço essa queda de crescer
Entre sardinhas cruas e alfaces de olear os foliões

- Quem quer fundos - quem quer almoçar?
Olhe a sardinha fresquinha
Ó freguês! Olhe os fundos frescos de amadurecer
Não são figos nem sardinhas de alto-mar

Antes o banquete ilustrando a arte de naufragar

  Ana Maria Puga in "Quando as Palavras começam a escrever", Editora Labirinto,
Fafe, 2011, pp 75 - 76.
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17/06/11

(Clicar sobre a imagem)

" Morte em Veneza


No azul da inquietação"


Morrer entre os canais
De quanto imaginar
A elegância da ponte
Por alagar de amor
Que só quer - existindo
Na fixação do olhar
Uma réstia de horizonte

A música de um maestro
Na miopia do desejo
Misturando o azul das águas
Nas lentes de criar o beijo

E só depois

(Desfalecer sob as pontes)

Desesperando
Na tinta de escurecer
De negrejar os cabelos
Em desalinho
Na chuva em fio-corrente
Moldando o rosto da-dor
Deambulando
Entre o favor de S. Marcos
E os esconsos sem magia
Onde mijaram os gatos
No canto de um corre-dor
Ao luar da travessia

 Ana Maria Puga in "Quando as Palavras Começam a Escrever", Editora Labirinto,
Fafe, 2011, p 53.
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         "Civilização"


Ela quis pagar com cartão dourado
Ao balcão - um euro só e quarenta
Um café de pequenas iguarias
De olhar cambado
De gola e banda
Mesclando na viscose as pedrarias

 Ana Maria Puga in "Quando as Palavras começam a Escrever", Editora Labirinto,
Fafe, 2011, p 45.
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